domingo, 10 de maio de 2015

Jornada nas Estrelas


Em 1964, o escritor norte-americano Gene Roddenberry (1921-1991) gravou o primeiro episódio-piloto de uma série que se tornaria um clássico e inauguraria uma das mais bem sucedidas franquias do mundo, um verdadeiro ícone da cultura contemporânea: Star Trek, ou Jornada nas Estrelas aqui no Brasil.
Mas o início foi um pouco difícil. Os produtores da rede NBC acharam o episódio-piloto cerebral demais, mas deram a oportunidade raríssima de que Roddenberry promovesse algumas alterações e apresentasse outro piloto, que acabou sendo aprovado.
No dia 8 de Setembro de 1966, o episódio “O Sal da Terra” (The Man Trap) foi ao ar pela NBC, dando início à missão de cinco anos da nave estelar Enterprise, para explorar estranhos novos mundos e novas civilizações, audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve.
Os cinco anos originalmente imaginados por Roddenberry já são 45. E, graças a um “reboot” na franquia de filmes idealizado pelo cineasta J.J. Abrams, não há sinal que a viagem algum dia terminará. Cinco séries de televisão, 11 filmes (com o 12º em pré-produção), uma série animada, muitas convenções, livros, documentários… Tudo leva a crer que o futuro da franquia será longo e próspero.

A Série Original

O fenômeno de Star Trek começou em 1966 com a produção chamada Jornada nas Estrelas – A Série Original. Ambientada no planeta Terra, século 23, ela conta a história de um capitão e sua tripulação durante uma missão de cinco anos a bordo da nave estelar USS Enterprise.
Jornada nas Estrelas é resultado de uma nova concepção de futuro, uma visão otimista do homem e da sua evolução. É um futuro em que o homem, através da história, superou a fome, a ambição, as doenças e, sobretudo, a ideia exagerada de possuir bens materiais, algo que o deixou livre para buscar seu desenvolvimento moral. Em Jornada nas Estrelas, a humanidade explora o Universo à procura de respostas e relações com outras culturas. A imagem predominante é a do progresso, o triunfo do homem, uma imagem que certamente estava em crise em 1966, quando a série foi criada.
A USS Enterprise tem o comando do Capitão James Tiberius Kirk (William Shatner). Entre os principais tripulantes, estão o Sr. Spock (Leonard Nimoy) – um alienígena vulcano de orelhas pontudas – e o médico-responsável Dr. Leonard McCoy (DeForest Kelley, 1920-1999). Este trio é a alma da série, onde ocorrem interessantes discussões entre o emotivo McCoy e o lógico Spock, equilibrados por um capitão que é a soma de suas qualidades. Completando a tripulação, há o engenheiro-chefe escocês Montgomery Scott (James Doohan, 1920-2005) – responsável pelas máquinas da nave -, a oficial de comunicações Tenente Nyota Uhura (a negra Nichelle Nichols), o timoneiro oriental Hikaru Sulu (George Takei) e o jovem navegador russo Pavel Chekov Ensign (Walter Koenig), que é o oficial de navegação da Enterprise. Esta foi uma ousada diversidade étnica, promovida em plena época de Guerra Fria e de conflitos raciais dos anos 1960. Foi a primeira vez que uma série americana incluiu um personagem russo que não fosse inimigo, o que reafirma a ideia de um futuro em que a humanidade está vinculada.
O planeta Terra usufrui a paz e a prosperidade em uma sociedade única, sem fronteiras e de um só governo. Não há mais guerras, racismo ou pobreza. Os terráqueos deveriam agora buscar o desconhecido, como forma de aprimorar ainda mais sua sociedade e seu conhecimento. Com isso, a Terra passou a fazer parte da Federação Unida de Planetas, que mantém um intercâmbio de paz, troca de informações científicas, realizando um comércio de produtos manufaturados e minerais entre os planetas.
O braço militar da federação é a Frota Estelar, com a missão de descobrir novos mundos e novas civilizações. A Frota Estelar é regida por um conjunto de 24 diretrizes. A Primeira – e mais importante – proíbe interferências em outras culturas e no desenvolvimento de qualquer sociedade. A Frota apenas age militarmente em casos onde a defesa é crucial. Sua missão mais importante é manter a paz, mais uma vez, algo que foi muito pregado nos anos 1960, após a Segunda Guerra Mundial.
Os principais inimigos da Federação são superorganizações de escopo semelhante à terrestre. As mais notáveis são os impérios, especialmente o Império Klingon, o Império Romulano e o Império Cardassiano. Normalmente, os conflitos entre a Federação e os impérios têm como foco a importância da democracia sobre a opressão totalitária.
O caráter humanista é uma das principais características da série original de Jornada nas Estrelas, que mesmo repleta de tecnologia futurista, como o teletransporte ou armas “phaser”, seu foco foi, na verdade, os conflitos dos anos 1960, como o racismo ou o movimento Hippie. Disfarçados pela ficção, temas como estes passaram pela censura americana e acabavam sendo captados pelo público, mesmo que lentamente. Inovadora, a produção ousou até mesmo o primeiro beijo inter-racial da tevê. No Brasil, na década de 1960, a mini-saia da Tenente Uhura fez com que a Censura Federal só liberasse a exibição de Jornada nas Estrelas para após as 23h.
Apesar de todo o sucesso que a série iria obter ao longo dos anos seguintes, Jornada nas Estrelas não agradou ao grande público americano em sua estreia. Inclusive, segundo uma lenda, o pai do produtor Gene Roddenberry pediu desculpas a alguns de seus vizinhos pelo fracasso da série. Mas um público fiel deu a audiência necessária para a produção de duas temporadas, além de uma terceira e derradeira em 1969, que só aconteceu devido pelos esforços iniciais do casal “trekker” John e Bjo Trimble, que organizaram uma campanha popular para salvar a série, com o apoio do próprio Gene Roddenberry. A NBC recebeu milhares de cartas e deixou os executivos impressionados.
Durante os anos 1970, enquanto emissoras locais americanas promoviam sucessivas reprises de Jornada nas Estrelas (tipo de exibição conhecida por “syndication”), o instituto medidor da audiência americana alterou sua metodologia de apuração e descobriu que a série realmente não tinha uma audiência estupenda, mas atingia exatamente o público que a rede NBC queria – jovens adultos do sexo masculino, com bom poder aquisitivo. Em meio a diversas convenções organizadas por fãs, verificou-se que a série havia virado mania e a produtora Paramount, que considerou o cancelamento de Jornada nas Estrelas como um erro, partiu para novas produções da franquia. A retomada da produção da série era inviável e fazer uma versão animada pareceu a melhor solução para Gene Roddenbery

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